Como reservar hotéis em Cuba: é preciso dizer o motivo da viagem

Se você está planejando uma viagem para Cuba de forma independente, já percebeu que não é tão simples fazer as reservas de hospedagem, encontrar voos domésticos e, até mesmo, agendar os passeios mais populares. Mas eu tenho uma dica fundamental para facilitar sua vida – e ela é obrigatória para reservar hotéis em Cuba.

→ Onde ficar em Havana:

É que os poucos sites internacionais que aceitam reservas para Cuba exigem que você indique o motivo da sua viagem antes de confirmar o pagamento, mas a opção “turismo” simplesmente não aparece. O que quase ninguém sabe é que há uma alternativa totalmente legal, simples e prática — e eu vou lhe mostrar como fazer isso sem erro.

Então, se você quer saber como reservar hotéis em Cuba escolhendo a opção certa, eu tenho todas as dicas que você precisa.

Como reservar hotéis em Cuba

Todo mundo que planeja uma viagem para a ilha enfrenta uma certa burocracia que começa na dificuldade de achar informações confiáveis e opções para reservar hotéis e comprar passagem aérea.

Isso acontece porque grande parte dos sites de reserva de hotéis e voos que operam em Cuba são plataformas sediadas nos Estados Unidos ou que utilizam sistemas de pagamento vinculados a empresas americanas. E como os Estados Unidos impõem sanções econômicas ao governo cubano, essas plataformas seguem regras específicas, mesmo para usuários brasileiros.

Por isso, antes de concluir qualquer reserva, o sistema exige que o viajante indique um dos doze motivos de viagem autorizados pelas leis americanas – e a gente pensava que só os cubanos eram afetados pelo embargo a Cuba.

→ Documentos para entrar em Cuba

Mas calma: isso não significa que brasileiros estejam proibidos de fazer turismo em Cuba.

 O governo cubano não impõe nenhuma restrição a turistas brasileiros,  desde que estejam com a documentação em dia, como o visto de turismo, passaporte válido, certificado de vacina contra a febre amarela e o formulário D’Viajeros preenchido.

Selecione a opção certa

Então, você pode visitar o país normalmente, passear pelas cidades, descansar nas praias, conhecer a cultura local e aproveitar tudo o que Cuba tem a oferecer.

A recomendação para quem está fazendo reservas em sites que exigem a escolha do motivo da viagem é selecionar a opção “apoio ao povo cubano”.

Essa é a alternativa mais coerente com o turismo independente, já que envolve hospedagens em casas particulares, refeições em restaurantes locais, passeios culturais, uso de táxis operados por empreendedores cubanos e uma imersão real no cotidiano da ilha.

 É uma forma legal e segura de seguir com a reserva  sem comprometer a experiência da viagem. Mas eu vou lhe explicar como você deve organizar sua viagem para fazer tudo da forma certa, para que sua viagem seja considerada uma atividade de apoio aos cubanos.

Portanto, mesmo que você seja brasileiro e esteja viajando a lazer, vale a pena entender esse contexto.

Cuba continua sendo um destino incrível e acessível, mas com particularidades que exigem atenção na hora de organizar a viagem. Saber como lidar com essas questões desde o início evita surpresas e garante uma experiência tranquila do começo ao fim.

Apoio ao povo cubano

A categoria “apoio ao povo cubano” é um dos 12 motivos de viagem autorizados pelas leis americanas e, embora esta regra não seja direcionada a brasileiros, é preciso deixar claro qual seu objetivo ao visitar o país.

As categorias disponíveis hoje, são:

• Visita à família
• Missões oficiais do governo dos EUA
• Atividade jornalística
• Pesquisa e reuniões profissionais
• Atividades educacionais
• Atividades religiosas
• Exibições públicas, consultas, seminários, competições ou outras atividades esportivas e exposições
• Apoio ao povo cubano
• Projetos humanitários
• Atividades de fundações privadas ou institutos educacionais ou de pesquisa
• Exportação, importação ou transmissão de informações ou materiais informativos
• Operações de exportação autorizadas pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos

Agora, talvez você esteja se perguntando como sua viagem pode se encaixar nessa categoria, já que seu objetivo é aproveitar as férias, tomar um mojito e curtir as praias do Caribe.

Mas é exatamente assim mesmo! Eu vou lhe explicar passo a passo como a sua viagem, do jeitinho que você planejou, é uma atividade de apoio ao povo cubano – já já isso vai ficar claro, mais claro do que o mar de Varadero.

Antes de avançar, eu preciso que você entenda porque a sua viagem vai ajudar os cubanos – lembro: do jeito que você planejou.

O povo cubano enfrenta, atualmente, uma das fases mais desafiadoras dos últimos anos. A escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos é uma realidade constante, agravada por uma crise econômica profunda e prolongada.

A inflação alta, os apagões frequentes e as dificuldades no abastecimento impactam diretamente o dia a dia da população.

Depois de uma temporada de furacões que causou estragos por toda a ilha – foram seis furacões em 2024 –, os cubanos seguem demonstrando uma incrível capacidade de resistência e criatividade, buscando alternativas para sobreviver e manter viva a cultura, a hospitalidade e a esperança de dias melhores.

Se você quiser entender melhor os impactos da histórica crise com os Estados Unidos e como o atual regime antidemocrático de Cuba maltrata a população, eu já contei como é a vida em Cuba a partir do que vi no país.

Como organizar a viagem

A categoria “apoio ao povo cubano” foi criada com o objetivo de incentivar um tipo de turismo mais consciente, que gera impacto direto na vida dos cubanos.

Ela permite que viajantes interajam com a população local, consumam em pequenos comércios, fiquem hospedados em casas de moradores e participem de atividades culturais autênticas.

Na prática, isso significa deixar de lado os resorts e as grandes redes estatais e priorizar os empreendedores independentes, que vivem do que produzem. É  uma forma legal e acessível de conhecer Cuba  de verdade, contribuindo com a economia local e valorizando as histórias e os talentos de quem vive na ilha.

Fazendo assim, a sua viagem se encaixa perfeitamente na categoria “apoio ao povo cubano”, mas eu ainda preciso explicar como organizar a viagem: fazer as reservas de hospedagem, escolher os meios de transporte dentro do país, selecionar os restaurantes caseiros e até os lugares para visitar.

Isso tudo vai demonstrar o seu interesse pela cultura e história do país e pelo povo cubano, não apenas pelos dias de luxo que você poderia ter em qualquer resort em qualquer outra ilha do Caribe – se você está interessado em viajar para Cuba, eu entendo que esse interesse é real.

Passo 1 – tenha uma programação

Para seguir corretamente as exigências da categoria “apoio ao povo cubano”, você deve manter uma programação diária de atividades – entre 9h e 18h – que promovam interações genuínas com a população local e favoreçam economicamente os empreendedores independentes.

Isso vai acontecer de forma natural e você vai ver que muitas dessas atividades já estavam na sua lista do que fazer em Cuba. Você só não imaginava que elas se encaixam na categoria de apoio aos cubanos.

Eu vou dar alguns exemplos iniciais.

Na hora de escolher a hospedagem, prefira ficar em casas particulares alugadas diretamente com moradores ou por meio de sites como Hoteis.com e Expedia.com.

Existem casas fantásticas em todas as cidades cubanas e elas funcionam como um aluguel de temporada que a gente já conhece – é o que chamamos de Airbnb.

Você também pode ficar em hotéis operados por empresas cubanas, geralmente hotéis menores, mas muito agradáveis e com o calor humano dos cubanos. Nesse caso, é bom evitar as redes internacionais de hotéis e resorts, já que elas só querem o lucro mesmo.

Na hora de comer, as melhores opções são os paladares — os tradicionais restaurantes familiares cubanos —, que guardam as melhores experiências gastronômicas do país e têm preços excelentes.

Os paladares são tipicamente simples e servem comida caseira, mas há paladares que ficaram tão famosos que se tornaram em restaurante super concorridos.

Para se locomover nas cidades, use táxis credenciados ou aqueles carros antigos emblemáticos, que são operados por motoristas autônomos. Evite ficar usando transfer e serviços de agências estatais o tempo todo!

Mas o mais importante de tudo é participar de experiências culturais como aulas de salsa, oficinas de artesanato, visitas a museus, espetáculos teatrais e um tanto de outras coisas que podem estar na sua lista de desejos – muitas delas encaixam perfeitamente.

Quem diria que tomar um mojito no La Bodeguita del Media seria uma “ação humanitária”, não é mesmo?

Para quem não sabe, o La Bodeguita del Medio é um bar e restaurante super tradicional de Havana que tem uma ligação fortíssima com o mojito – segundo dizem os cubanos, foi onde o drinque ganhou fama.

A bebida, que é feita com rum cubano, é preparada nos balcões do bar enquanto músicos locais tocam e cantam clássicos da música cubana e caribenha. É uma experiência fantástica!

Conseguiu entender agora como as programações que você planejou se encaixam na categoria de “apoio ao povo cubano”.

Mas eu ainda vou além!

Veja como seria uma programação de um dia em Havana cheio de experiências locais:

HORÁRIO	ATIVIDADE
8h-9h	Café da manhã na casa particular
9h-12h	Visita guiada a Habana Vieja
12h-13h	Almoço no Casa Mia Paladar
13h-14h	Visita a lojinhas locais
14h-15h	Visita ao Museu do Rum
15h-16h	Aula de salsa na Escola Salsabor a Cuba
16h-18h	Caminhada pelo Malecón ao pôr do sol
19h-20h	Apresentação musical no La Bodeguita del Medio
21h-22h	Jantar no Paladar Don Omar
22h	Dormir na casa particular

Era isso que você estava pensando?

Passo 2: Interaja com o povo cubano

Mais do que conhecer lugares, essa categoria de viagem  é sobre conhecer pessoas. 

Conversar com moradores, ouvir histórias de vida, trocar sorrisos com guias, fazer aulas de culinária, frequentar padarias e mercados locais, prestigiar músicos de rua e valorizar o artesanato são algumas pequenas atitudes que vão marcar para sempre sua viagem a Cuba – o que realmente faz a diferença.

É assim que a viagem ganha profundidade e deixa de ser apenas turismo para se tornar vivência.

Se a sua ideia de viagem é passar os dias em um resort sem sair da espreguiçadeira, talvez essa não seja a proposta ideal. Mas se você quer mergulhar na cultura cubana, sentir o calor humano de quem vive na ilha e voltar com histórias reais na bagagem, então está no caminho certo.

Eu vivi momentos fantásticos em Cuba. Uma deles foi quando encontrei Dona Lelina, uma senhora que já estava com seus 84 anos.

Enquanto caminhava pelas ruas de Centro Habana, vi Dona Lelina sentada em uma cadeira de balanço na calçada de sua casa fazendo crochê. Me aproximei, pedi para tirar uma foto e ela, mesmo envergonhada, deixou. Me apresentei e ela disse que era apaixonada pelas novelas brasileiras, então fez questão de que fosse conhecer sua casa.

Me apresentou o filho e tirou de um móvel no canto da sala o álbum de 15 anos da neta. Com orgulho, passava página por página para que eu conhecesse mais de sua família.

Naquele momento, eu entrei no mundo de uma senhora cubana que tinha vivido todas as transformações que Cuba passou nas últimas décadas – eu conto os detalhes dessa história em meu livro.

Passo 3: guarde itinerário e recibos

Mesmo que essa exigência seja voltada principalmente para cidadãos americanos, vale para qualquer viajante que queira manter a organização e garantir tranquilidade durante a viagem. Anote, ao final de cada dia, as atividades que realizou, os nomes dos lugares visitados e os serviços que contratou. Tire fotos e faça vídeos!

Sempre que possível, peça recibos — especialmente em restaurantes, experiências culturais, transportes e hospedagens. Uma dica simples é tirar fotos dos comprovantes e salvar tudo em uma pasta no celular ou enviar por e-mail para você mesmo. Além de ajudar na organização, esse registro cria um diário prático e útil da sua experiência em Cuba.

Pronto para viver Cuba de verdade?

Agora você já sabe como reservar hotéis em Cuba, mas mais do que isso, você aprendeu que essa é uma oportunidade de viajar de forma consciente e transformadora.

Ao escolher a categoria “apoio ao povo cubano”, você não está apenas garantindo que sua reserva seja concluída corretamente – você está se conectando com a cultura local, apoiando famílias, pequenos empreendedores e vivenciando o país de um jeito muito mais autêntico.

Cuba deixa de ser apenas um destino turístico e se torna uma experiência viva, cheia de encontros, histórias e trocas reais. É isso que faz essa viagem valer a pena desde o momento da reserva até o último dia na ilha.

Viajar apoiando o povo cubano é uma forma linda de conhecer o país — você contribui com a economia local, enriquece sua experiência cultural e volta com uma bagagem cheia de histórias. Basta montar um roteiro com carinho, apoiar os negócios familiares e se deixar levar pelo carisma único dos cubanos.